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Eu, Nascido em Salvador!
Bahia!
Brasil!
Paralelo tropical onde a natureza foi generosa!
O verde viçoso!
O sol pungente!
O mar preguiçosamente azul-turquesa estendido...
Langorosamente aquecido pronto posto para o meu batismo do amor sagrado!
Com folhas exóticas remanescentes da Mata Atlântica à míngua!
E vertiginosos salpicos de apimentados temperos com água de cheiro e pinga!
Preenchendo os meus ouvidos amasiados que tudo em volta devoram enquanto gingam!
Ao som rogatório de uma ladainha sincrética que a uns e outros desagravam e xingam!
Oh, magnífica expressão dos segredos emaranhados da Ordem Terceira do Santo Martirizado para a remissão de corpos esquálidos!
Quase Queimados!
Quase Nutridos!
Quase Perfeitos!
...daí fui naturalmente crescendo e me exercitando
em suas ruas de pesadas-pedras-paralelepipedais negras.
Uma Para Cada Escravo Negro!
que veio de Gana!
que veio do Togo!
que veio do Benin!
que veio da Nigéria!
que veio das Guinés!
que veio da Libéria!
que veio da Costa do Marfim!
que veio do Zimbábue!
que veio de Moçambique!
que veio do Malavi!
que veio da Tanzânia!
que veio do Congo!
que veio de Camarões!
que veio de Angola!
que veio de Zâmbia!
que veio do Sudão!
que veio da Etiópia!
que veio do Senegal!
que veio de Gâmbia!
...agora eternizados,
lado a lado, ajoelhados,
comprimidos, enterrados ali!
Reverenciando minha passagem leve
sob uma língua de luz de rara intensidade
(que só se vê na Bahia!)
Eu! Com os sentidos embevecidos!
Cheio de delicadezas e surpresas coloridas!
Subindo e descendo ladeiras insinuosas
com trajes que mal cabiam no corpo,
um corpo que mal cabia em mim,
o cabelo crespo com piolhos,
Sob Unção Divina!
Eu! Eterno! Invencível!
Seguindo os odores de nativos iluminados!
Herdeiros Bastardos de Cada Pedra Negra Sob Essa Cidade!
Todas Minhas Pérolas Negras Ajuntadas!
Meu Vasto Volteador Caminho De Pedras!
único-por-onde-chego-às-entranhas-do-meu-breve-coração...
Porque Todos Os Caminhos São Falsos!
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