Histórias de África Bahia

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A marcha dos primeiros africanos para o Brasil.

Mãe África
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Segundo o resultado de sucessivas e apaixonantes pesquisas arqueológicas, possivelmente evoluímos de um ancestral comum aos símios, mesma estrutura anatômica básica e genética similar - talvez assim como um ramapithecus - algo entre pequenos macacos e futuros hominídeos que viveram em diferentes regiões da Europa, Ásia e África. Isso a cerca de dez (longos) milhões de anos atrás.
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ramapithecus
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Na busca pelo elo perdido, por muito tempo acreditou-se que esse ramapithecus poderia ser o ancestral direto do homem. Hoje, cientistas acreditam que ele deve ter sido um distante ancestral dos orangotangos.
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Acredita-se que outro provável Elo Perdido, exposto às exigências de um processo natural de adaptação que exigiu pequenas adequações físicas ao apelo das diferentes geografias conquistadas, foi aos poucos se afastando das florestas congestionadas em busca de abrigo em cavernas, de alimento em savanas, de água em abundância, lentamente se ajustando às novas formas, no decorrer de alguns poucos milhões de anos.
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Originado na África, esse processo adaptativo e evolutivo percorreu uma estrada em contínuos rodeios, alcançando mudanças significativas até um certo momento, quando o tronco principal teria se diversificado, cerca de seis milhões de anos após o surgimento dos primeiros hominídeos (ou cerca de quatro milhões de anos atrás), quando símios e seres humanos seguiram caminhos evolutivos diferentes.
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australopithecus
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A partir de 1924, pegadas e fósseis dos primeiros australopithecus ou símios meridionais, foram encontrados de sul a norte no lado oriental africano, como que seguindo uma trilha aos pés de uma cordilheira de montanhas (vulcânicas), imersos num grande vale.
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Sítios onde foram encontrados fósseis dos primeiros australopithecus
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Encontramos vestígios fósseis desde a região do Transvaal, África do Sul, denominando essa espécie que ficou conhecida como “macaco do sul” (australopithecus); mas acima, passando pela Garganta de Olduvai – fósseis, além de pegadas fossilizadas em cinzas vulcânicas (dois adultos e uma cria), em Laetoli, ao norte da Tanzânia (TZ); em Lothagam, Koobi Fora e Omo, sítios no entorno do lago Turkana, no vizinho Quênia (KE); na região do deserto do Afar, Etiópia (ET); onde foi encontrado o fóssil mais antigo, a filha de Lucy (um bebê australopiteco, bípede e que trepava em árvores, morto há 3,3 milhões de anos); e finalmente no Chade (TD) (nas praias ao sul do deserto do Saara).
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homo habilis
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Em 1972, também no Quênia, em Koobi Fora, foi descoberto um fóssil com características mais modernas, mas que datavam do mesmo período dos australopithecus: o homo habilis.
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Portanto, se ordenarmos a nossa cronologia, teremos:
(em milhões de anos)
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10 milhões: Patriarca comum... (algo como um ramapithecus)
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6 milhões: Diversificação do tronco principal caracterizadas por mudanças significativas causadas por alterações climáticas ou mudanças ambientais que resultaram em algumas subespécies variadas.
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3,5 milhões: Apresentam-se, com certa distinção, algumas espécies com características simiescas, os australopithecus (primeiros hominídeos bípedes).
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Lucy Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México
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O australopithecus, do gênero australopithecus, da família hominidae, da ordem primates, é a mais antiga prova do bipedalismo. Ossos fossilizados de um australopithecus - do gênero feminino, que ficou conhecida como Lucy - foi encontrado na Etiópia, em 1974, por uma equipe de arqueólogos comandada pelo professor Donald Johanson.
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2 milhões: Surge, um pouco mais tarde, outros, com feições mais humanas: o homo habilis.
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homo habilis, esse bonitinho tem 1,5 de altura
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O homo habilis, do gênero homo, da família hominidae, da ordem primates, também foi encontrado em Olduvai, Tanzânia e em Koobi Fora, no Quênia (estes os mais antigos, cerca de 2 milhões de anos atrás). As primeiras descobertas aconteceram na Suazilândia, em 1964 (um pequeno país fronteiriço à África do Sul), pelo paleontropólogo Louis Leakey e sua equipe. Recentemente foi encontrada uma ossada fossilizada quase completa nas grutas Sterkfontein, Africa do Sul. O homo habilis possui um crânio mais arredondado, um cérebro maior e boca com maxilares menos proeminente.
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1,5 mil: Surge o homo erectus.
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homo erectus
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Nos últimos dois milhões de anos, os australopithecus desaparecem em composições com seus semelhantes ou foram extintos. Enquanto um "provável" descendente/primo do homo habilis, o homo erectus (coexistiram por mais de 500 mil anos), melhor adaptado, começa sua marcha em direção a Ásia e a Europa e se espalha pelo mundo em contínua transformação e adaptação.
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homo sapiens encontrado na Ethiopia - Foto (c) 2001 David L. Brill
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Segundo o professor Jaime Pinsky (1988), mudanças significativas como o arredondamento da cabeça, redução dos arcos superciliares e diminuição dos maxilares ocorrem nesse último milhão de anos, o que resulta no surgimento de um novo hominídeo: o homo sapiens. Evidências de DNA mitocondrial indicam sua origem na África oriental há cerca de duzentos mil anos. O homo sapiens ainda teria propiciado outros descendentes que não vingaram, a exemplo do famoso e assustador homem de neanderthal. Aqueles, com características mais próximas a nós, foram se definindo ao longo dos últimos 50 mil anos, dando feições a um novo homem, o moderno homem: o homo sapiens sapiens. Igual a você, a mim... sapientadissíssimos.
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Retomando nosso cronograma, temos:
2 milhões: homo habilis;
1,5 mil: homo erectus. Começa a marcha do homem pelo mundo;
200 mil anos: homo sapiens, já na África, Europa e Ásia;
50 mil anos: homo sapiens sapiens.
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...e para completar a jornada:
31.500 anos: vestígios de presença humana no Piauí, aqui no Brasil.
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Mapa das primeiras migrações humanas, de acordo com análises efectuadas ao DNA mitocondrial (unidades: milênios até ao presente).
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A perspectiva deste planisfério centra-se no pólo norte, para facilitar a compreensão das rotas das migrações segunda as teorias da ponte glacial sobre o estreito de Bering. Fonte: Wikipedia
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O que motivou o êxodo do homem pelo mundo? Busca de alimento, curiosidade, espírito de aventura, condições climáticas ou ambientais... Não sabemos. Talvez um pouco de tudo isso. Mas é certo que a anatomia do homo erectus possibilitou transportar consigo água, alimentos, provavelmente o fogo e alguns rudimentares instrumentos de defesa e caça que o tornou relativamente independente.
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O Beijo: pintura rupestre em São Raimundo Nonato
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Esse homo andou muito. Segundo o prof Pinsky, na gruta do Boqueirão, em São Raimundo Nonato, no Piauí, a 520 km de Teresina, divisa norte com o estado da Bahia, foram encontradas pedras de carvão datadas de 31.500 anos. Um possível vestígios da presença humana mais antiga das Américas. Na época da colonização, quando os jesuítas ali chegaram, a região era habitada por silvícolas da tribo dos Tapuias.
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Essas grutas testemunham o nosso legado africano, que começou não com a depredação, o saque, a violência efetiva, a extrema barbaridade dos povos colonizadores europeus, mas muito antes, longe de tudo isso. Essencialmente fruto de uma vontade de querer agir, caminhar, comparar, avaliar, decidir sobre o que a inteligência nos ordenava em épocas muito remotas. Penso que muito pode ser atribuído a uma força de vontade voluntária, livre, determinante para essa conquista.
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Esse esforço que nos trouxe até aqui, vencendo todos os obstáculos inimagináveis ao longo de milhões de anos, merece uma análise mais profunda no sentido do que nos foi dado. Pois pertencemos a um mundo original maior que os limites territoriais de nossas pequenas propriedades privadas, nossas cercas acumulativas e cumulativas. Somos parte de um mundo transterritorial, espaço essencial de pertencimento onde se refaz necessário o resgate diverso de nossa humanidade, coletiva, plural, tudo de bom para todos como uma nova forma de procedermos planetariamente. Um grande povo, uma mesma caminhada, fruto de uma mesma origem.
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Bibliografia:
Pinsky, Jaime. As primeiras civilizações. 2 ed. São Paulo 1988. Atual Editora.
Parker, Geoffrey. Atlas of Words History. 4 ed. 1993. British Library Cataloguimg in Publication Data "Times".
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