Histórias de África Bahia

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Castro Alves, uma breve história.

Castro Alves aos 20 anos


Fiched baseado no livro de Alberto Costa e Silva: Castro Alves, um poeta sempre jovem [1]

14 de março de 1847

9) Cecéu: Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na fazenda Cabaceiras próxima a Nossa Senhora de Conceição de Curralinho, hoje Castro Alves, Bahia. Os pais, o médico Antônio José Alves e Clélia Brasília da Silva Castro. O avô paterno, Antônio José, era um comerciante português, natural do Minho. "Da avó [paterna], igualmente solteira, não se guardou sequer o nome". O avô materno, o coronel sertanejo José Antônio da Silva Castro foi um grande senhor de terras. A avó materna, Ana Viegas, era uma cigana espanhola. Na região de Curralinho "prevaleciam os modos de vida dos pioneiros, os rapazes raptavam as moças, os padres tinham amásias e as disputas de coração, honra, de dinheiro e de poder se resolviam frequentemente a punhal e a bala". Sua ama de leite Leopoldina, escrava de seu pai, foi mãe de Gregório, seu pajem que o acompanhou durante a vida.

1852 (4 anos)
11) Após uma rápida passagem por Muritiba, a família se fixou em São Félix, onde Castro Alves iniciou seus estudos com um professor particular.

Casa onde nasceu o poeta, sede da antiga fazenda Cabaceiras.


1854 (6 anos)
A família, Dr. Alves, D. Clélia, três rapazes (Castro Alves, José Antônio e Guilherme), e uma menina (Elisa), chegam à Salvador, capital da província, onde duas novas irmãs (Adelaide e Amélia), juntam-se ao grupo. Ainda em Cabaceiras, um segundo irmão (João), veio a falecer poucos dias após o nascimento. Alguns anos mais tarde, em 1864, José Antônio, outro irmão, acometido de sucessivas crises depressivas, se suicidava com uma ingestão excessiva de remédios. Guilherme faleceu em 1877, dois anos após a publicação de seu livro de poemas Raios sem luz, editado sob o pseudônimo de D'alva Xavier. Amélia também escrevia versos.

Em Salvador, residiram à rua do Rosário de João Pereira, 1, e à rua do Passo, 47, onde o Dr. Alves atendia escravos. (Jornal da Bahia, 12/4/1855). Dr. Alves lecionou na faculdade de medicina e como médico alcançou enorme prestígio profissional. "Homem culto e de sensibilidade artística, se tornaria dono de uma das melhores coleções de pintura de Salvador". Participou da criação da Sociedade de Belas Artes e do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).  Foi homenageado com a Ordem da Rosa e, mais tarde, do Cruzeiro. A primeira foi criada para celebrar o casamento de d. Pedro I com d. Leopoldina; a segunda, após a independência, 1822.

Quinta da Boa Vista, em 2015


1856 (9 anos)
14) O Dr. Alves adquire uma chácara nos arrabaldes da cidade, em Brotas, a roça ou quinta da Boa Vista. Antes da independência, o casarão pertencera ao português, também do Minho, Manuel José Machado, “grande contrabandista e mercador de escravos, senhor impiedoso, estuprador de negrinhas e dono de um considerável número de filhos mulatos”. Conhecido como o Machado da Boa Vista, era tido como um sujeito de grande influência na cidade. Colaborou com a construção da Praça do Comércio e do Teatro São João, do qual foi diretor. Seu corpo encontra-se na Santa Casa da Misericórdia, que também herdou boa parte de seus bens. Foi enterrado com o “hábito de Cristo, que em 1808 lhe conferira o príncipe regente d. João”. Quando chegou à casa, Castro Alves ainda encontrou os diferentes troncos de supliciar escravos, pés, mãos e pescoço. A torre servia de mirante, dela se avistava o mar. Ali se postava um escravo que tocava um sino anunciando a triste chegada de mais um navio negreiro.

181) “O menino Antônio ingressa no Colégio São João”

1858 (11 anos)
Por conta da má saúde de d. Clélia, a família Alves foi morar na quinta Boa Vista, um belo palacete “no subúrbio”, com grandes árvores (cajueiros, mangueiras, jaqueiras, cajazeiras) e ares de interior. No terreno, havia ainda uma fonte com carranca e redoma de azulejo e senzala. A partir de 1874, o casarão viria a ser o hospital de alienados Asilo São João de Deus. Mais tarde, Hospital Juliano Moreira.

16) "Antônio tinha 11 anos quando entrou para o Ginásio Baiano, do famoso educador [abolicionista] Abílio César Borges, futuro barão de Macaúbas e futura personagem de Raul Pompéia", o dr. Aristarco, em O Ateneu. Havia estudado ainda em outro colégio, o São João ou Sebrāo, do diretor Franciso Pereira de Almeida Sebrão. Mais tarde, a nova sede do Ginásio Baiano (visitada por d. Pedro II, em 1859) viria ocupar um palacete nos Barris, que pertencia a outro grande traficante de escravos sediado em Porto Novo, na costa africana, Domingos José Martins, "filho do revolucionário pernambucano de mesmo nome, fuzilado pelos portugueses após o malogro do movimento de 1817."

17) No Ginásio Baiano, conheceu Rui Barbosa. Os dois foram grandes amigos. Lá, aprendeu latim, francês e inglês, e a postar a voz, sobre o palanque, nos saraus literários promovidos pelo professor Abílio; também "traduziu em versos uma ode de Horácio" e alguns poemas de Victor Hugo.

d. Clélia Brasília, mãe do poeta.


1859 (12 anos)
19) Sua mãe, d. Clélia, aos 34 anos, morre de tuberculose. A família passa a residir à rua do Sodré, hoje bairro Dois de Julho. Seu pai, o dr. Alves, também tivera problemas pulmonares na juventude. Na época, ignorava-se que o mal fosse causado por um bacilo.

1860 (13 anos)
181) “9 de setembro: Antônio recita seus primeiros versos, em festa no Ginásio Baiano.

1862 (15 anos)
Em 24 de janeiro, o dr. Alves casa-se com uma vizinha, d. Maria Ramos Guimarães, viúva do português Francisco Lopes Guimarães, proprietário de navios negreiros (Queri, Maria e Chinfrim). Este foi credor do filho de um dos maiores traficantes do século XIX, o Chachá Francisco Felix de Souza, pai de Antônio Félix de Souza. A família Alves muda-se para o Solar do Sodré.

Pintura de Franz Post, entre 1653 e 1657


20) O tráfico era um grande negócio. O lucro de uma travessia chegava a 25%. Um rendimento acima de qualquer outro na época. O escravo era vendido pelo triplo do preço que era adquirido na costa africana. Os altos custos incluíam o aluguel do navio; o seguro; o soldo do capitão, comandantes e tripulação (que era, em média, o dobro da tripulação utilizada para qualquer outro tipo de comércio); as taxas portuárias; o imposto por escravo; os presentes dos reis e representantes; as despesas com água e alimentação; e o suborno aos funcionários brasileiros para que fizessem vistas grossas aos desembarques "proibidos". O tráfico negreiro "era o motor da cidade". O “primeiro de todos os itens da pauta de importação da Bahia” (23).

25) Em 25 de janeiro, Castro Alves e seu irmão José Antônio embarcam para estudar direito no Recife. "Era leitor de românticos europeus - Vigny, Espronceda, Heine, Musset, Lamartine, Quinet" - além de Byron e Vitor Hugo. "Conhecia os versos de José Bonifácio, o Moço, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire, Pedro Luís, Fagundes Varela, Soares de Passos e Tomás Ribeiro".

1863 (16 anos)
Em março, mês que completaria seus 16 anos, “submete-se a prova para ingresso na faculdade de direito e é reprovado”. No mesmo mês, foi ao Teatro Santa Isabel, assistir a peça Dalila, de Octave Feuillet. Lá conheceu a atriz Eugênia Infante Câmara, 10 anos mais velha, com quem viveria um arrebatado romance juvenil. Eugênia era uma atriz portuguesa e também publicara um livro em versos, "Esboços poéticos, reeditado em Fortaleza com novo título: Segredos d'alma."

No Teatro Santa Isabel,

Castro Alves improvisa homenageando sua amada Eugênia Câmara


28) "Segundo o testemunho de seu grande amigo Luís Cornélio dos Santos, ele teria tido, em meados de 1863, uma hemoptise (golfada de sangue causada pela tosse tísica).

29) Em maio, um jornal de acadêmicos de direito, A Primavera, publicou "A Canção do africano". Versos abolicionistas, em redondilha maior, à moda dos cantadores da época.

31) "Os escravos de Castro Alves amam-se entre si com fidelidade e constância, e são visceralmente apegados aos filhos." (2006, p.31). "O escravo será sempre, em Castro Alves, devotado aos seus, nobre, altivo, valente e reto. Na maioria dos casos, um resistente, um inconformado, um vingador, um rebelde."

1864 (17 anos)
34) Castro Alves perde o irmão José Antônio, que se suicida em Curralinho. Matricula-se na Faculdade de Direito onde conhece o jurista e também poeta sergipano Tobias Barreto, oito anos mais velho. Com alguns colegas lançou o jornal de estudantes O Futuro. Nesse período também escreveu o poema "Mocidade e morte", que se chamara inicialmente "O tísico", algo prenunciador do que lhe aconteceria.

Em outubro, já quase findando o ano acadêmico, às pressas, volta para Salvador, visita os amigos e conhece o poeta Fagundes Varela, que se deu por ali após o naufrágio da embarcação que o levava para estudar também no Recife. Castro Alves perde seu primeiro ano na faculdade por faltas.

1865 (18 anos)
40) Castro Alves matricula-se novamente no primeiro ano de direito, no Recife. Sua chegada, no mês de março, acompanhado por Fagundes Varela e um escravo (Gregório) é notícia no Jornal do Recife (64).  Começa a juntar os primeiros poemas do livro Os escravos. Em agosto daquele ano, no salão de honra da faculdade declama o poema "O Século" que, assim como "Adeus, meu canto" era de temática engajada, liberal, influenciada pelas ideias socialistas que chegavam da Europa e que o tornaria famoso na cidade. O poeta acreditava que a poesia deveria "ser o arauto da liberdade [...] e o brado ardente contra os usurpadores dos direitos do povo".

47) Nesse período, alistou-se no Batalhão Acadêmico de Voluntários para a Guerra do Paraguai. Mas não partiu. Sua participação reduziu-se à criação do poema "Aos estudantes voluntários".

182) Em dezembro, “volta a Salvador, com Fagundes Varela.”

1866 (19 anos)
52) Aos 48 anos, no dia 23 de janeiro, morre o Dr. Alves, "vítima de um coração cansado [...]  fortemente endividado." Investiu o que tinha e o que não tinha na esperança de transformar a quinta da Boa Vista em hospital. Na época, de familiares, havia Francisco, filho de d. Maria; Guilherme, com 14 anos; Elisa, com 12; Adelaide, com 11; e Amélia, com 9 anos.

(57) De volta ao Recife, passa a morar no Barro, um subúrbio, agora amasiado com d. Eugênia Câmara (a filha desta, Emília Augusta, uma criada e, talvez, uma escrava; além de Gregório, o pajem do poeta (p.63), filho da ama Leopoldina que, como escravo, é citado no inventário de d. Clélia Brasília).

45) Juntamente com Rui Barbosa e outros companheiros, funda uma sociedade abolicionista. Neste mesmo ano se desentende com Tobias Barreto, por conta de seus protagonismos amorosos que, na época, disputavam o mesmo palco. Enquanto Castro Alves tecia odes a Eugênia, Tobias Barreto enaltecia Adelaide Amaral, também atriz da mesma companhia. Castro Alves lança um primeiro número da revista Luz.



1867 (20 anos)
67) Castro Alves finaliza o drama Gonzaga ou A revolução de Minas. Carlota, personagem central, assim como a Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães ou Lúcia, em Rei Negro, de Coelho Neto, aborda o problema da escravidão a partir da “lógica do escravismo racista”: o público branco apiedava-se pela personagem escrava de pele clara contra o sistema escravista.

70) O estudante de direito não se matricula no terceiro ano da faculdade e, em maio, segue para Salvador onde pretende estrear sua peça. Ele, a atriz e a menina, filha de Eugênia, foram morar no casarão da quinta da Boa Vista. O poeta, famoso, se apresenta em várias oportunidades. A peça estreou, com grande sucesso, no dia 7 de setembro. Em novembro, em memória do casarão, escreve "A Boa Vista".

1868 (21 anos)
83) Levando consigo duas cartas de apresentação do político Joaquim Jerônimo Fernandes da Cunha, Castro Alves embarca para o Rio. Uma carta para José Maria da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco, a outra para José de Alencar, com quem esteve numa tarde de poesias. Alencar o apresentaria ao grande público, em carta aberta, no Correio Mercantil de 22 de fevereiro. Carta que fora também destinada a Machado de Assis, que visita o poeta. Os dois dividem outra tarde literária. Em Março, da sacada do Diário do Rio de Janeiro, recita "Pesadelo de Humaitá" (no contexto da Guerra contra o Paraguai ou da Tríplice Aliança (1864-1870), Humaitá era o nome da fortificação que controlava o acesso por via fluvial à capital, Assunção).

87) No mesmo mês, o casal, na companhia de Rui Barbosa, seguem de navio para São Paulo. A cidade, com cerca de 30 mil habitantes, se multiplicava com os lucros das lavouras escravistas de café. Em Março, o poeta se matricula no terceiro ano da Faculdade de Direito, localizada no antigo convento de São Francisco, que abrigou, antes de Castro Alves, Álvares de Azevedo e Fagundes Varela. Na época, o modelo a ser seguido era Byron, "e se cultivavam o tédio, ou melhor, o spleen, e o desvario." Agora, a vez de Victor Hugo e, ao invés de tédio, abolição e República. Entre os sequazes, o professor José Bonifácio, o Moço, Ferreira Menezes, Joaquim Nabuco (Quincas, o Belo), Rodrigo Alves, Carlos Ferreira, Afonso Pena, Salvador de Mendonça, Basílio Machado e Rui Barbosa. Dizia Nabuco, "nunca ter visto o colega 'dar um momento de atenção às realidades da vida, nem às ambições da mocidade" (p.91).

Nesse período, intensificou a produção de poemas para Os escravos, escreveu "Vozes da África", "O Navio Negreiro", e andava ocupado com a publicação de "Gonzaga".

Navio Negreiro, por Rugendas. Publicado em Paris, 1835.


97) No dia 7 de setembro, recitou o poema "Tragédia no mar", mais tarde renomado "O Navio Negreiro". O tráfico oficial já deixara de existir desde 1850 (Lei Eusébio de Queirós que ratificava a proibição do tráfico transoceânico, matéria de outra lei já sancionada, por D. Pedro II, em 7 de novembro de 1831, que não se fazia valer). Entretanto, ainda nesse período, década de 1850, o tráfico de cabotagem, trazendo os negros das províncias do norte para as lavouras de café no sudeste, continuava a pleno vapor. A escravidão perdurava ainda com força no país e o contrabando, não pouca vezes, derramava suas presas miseráveis em praias ermas, refúgio de traficantes. Alguns poemas temáticos da época: "Les nègres et les marionnettes", de Pierre-Jean de Béranger, "The Slave Ship", de John Greenleaf Whittier, e "Das Sklavenschiff", de Heinrich Heine.

121) Simum: vento que sopra do Saara para o Norte da África. Harmatã, do deserto para o sudoeste africano.

124) O monte Ararat e "o anátema de Noé contra Cam, que faltara com respeito à ebriedade e à nudez do pai". (...) segundo o texto bíblico, "os seus descendentes seriam escravos - devia recair sobre Canaã, e não, sobre Cam ou seu outro filho, Cuxe, de quem proviriam os negros, primeiro os islamitas e, depois, os cristãos a usaram para justificar, (...), a escravização dos africanos".

130) Em 25 de outubro, Gonzaga estreia em São Paulo, no Teatro São José. Ocorreram apenas duas apresentações, "não havia público para mais". A relação com Eugênia Câmara se desfazia e o inspirou à lírica de "Boa noite" e "O adeus de Teresa". "Foi Eugênia que (...) o mandou embora e lhe atirou os livros e os demais pertences na rua." (...) "Castro Alves foi morar com Rui Barbosa, numa república de estudantes na ladeira da Conceição." É aprovado nos exames da faculdade de direito.

135) Foi no dia 11 de novembro, na altura do Brás, que Castro Alves alvejara o próprio calcanhar esquerdo ao saltar uma vala. Foi atendido pelo presidente da província, Cândido Borges Monteiro, o Barão de Itaúna, que era cirurgião, e o Dr. Lopes dos Anjos. A tuberculose recrudesceu, as hemoptises voltaram.

1869 (22 anos)
140) Na esperança de bons médicos, em 21 de maio chega ao Rio. (...) "só recorriam aos hospitais os que não tinham família o ou não podiam manter-se, os solitários e os desamparados." Na casa do amigo Luís Cornélio, no Rio, os Drs. Mateus de Andrade e Andrade Pertence amputaram "o pé pelo terço inferior da tíbia".  "Castro Alves enfrentou a operação sem anestesia, pois o estado de seus pulmões tornava perigoso o uso do clorofórmio."

144) "Em 25 de novembro, embarcou para a Bahia, acompanhado do cunhado Francisco Lopes Guimarães Junior". No dia seguinte, o Jornal da Tarde publicou “Adeus”.

Antiga Casa da Fazenda Curralinho, de d. Ana Constança.


1870 (23 anos)
152) A tuberculose se agravava. Em fevereiro, a conselho dos médicos, viajou para Curralinho. "A família Alves já não era dona da fazenda Cabaceira, que o Dr. Alves vendera, [juntamente com uma parte da fazenda Paraguassuzinho], para comprar a quinta da Boa Vista." Castro Alves se instalou no sobrado de d. Constância, irmã de seu avô e prima de sua mãe. No sótão de uma casa vizinha fez refúgio. Leu Humbolt e acompanhou os últimos meses da Guerra do Paraguai. Sobre o conflito, escreveu cinco poemas: dois da época dos Voluntários da Pátria; um em favor dos órfãos de guerra “Quem dá aos pobres empresta a Deus”; “O Pesadelo de Humaitá”; "e na passagem final de 'Dous de Julho, une-se a batalha final de Riachuelo à do Cabrito." Foram cinco meses de Curralinho.

157) Em julho, segue para a fazenda Santa Isabel, em Rosário do Orobó, hoje Itaberaba. Em setembro, regressa à Salvador, estabelece-se no Solar do Sodré. Em outubro, lança Espumas flutuantes, com 54 poemas e 218 páginas. Na esperança de voltar aos estudos, se matriculara no quarto ano da Faculdade de Direito de São Paulo.

O casarão da Boa Vista é vendido para o governo da província, "a fim de que se instalasse um asilo de loucos", o asilo São João, mais tarde, em 1936, Hospital Juliano Moreira (p.53). Nele, internada, faleceu Leonídia Fraga, um antigo amor das idas à Curralinho (p.156).

158) Em 14 de outubro, fez presença em uma noite de festas em benefício do Grêmio Literário. No dia 22, no Solar do Sodré, promoveu seu primeiro sarau literário. Recitou "A cachoeira de Paulo Afonso", a triste saga de um casal de escravos.

164) Castro Alves escreveu poemas para serem decorados. "Tudo ajuda a memorização: os estribilhos, as repetições, os refrãos, a insistência na redondilha maior, as rimas agudas, o mesmo verso a terminar todas as estrofes, ou o último verso de uma quadra ou uma quintilha a repertir-se como o primeiro da seguinte."

167) Uma possível filha: Virgínia Hilda de Castro Alves, filha de Virgínia Hugo Coutinho de Castro, viúva, vizinha no Sodré. A relação teria acontecido no período entre seu retorno de Curralinho e sua morte.

1871 (24 anos)
170) Ano de sua morte. Em 10 de fevereiro, Castro Alves se apresenta na Associação Comercial da Bahia. Em ato beneficente em favor das crianças vítimas da guerra franco-prussiana. Foi sua última apresentação em público. No dia 30 de abril publicou, no O abolicionista, uma peça em prosa, pedindo donativos para a Sociedade Abolicionista 7 de Setembro. Também "saiu em defesa da participação da mulher na política e no voto feminino".

171) Lei do Ventre Livre: "O visconde do Rio Branco apresentara à Câmara o projeto sobre a Reforma do Elemento Servil, no qual se previa que os filhos das escravas nasceriam livres, se criava um fundo de emancipação, se reconhecia o direito do escravo de formar um pecúlio para comprar a liberdade e se assegurava o seu direito à alforria, se proibia a separação dos cônjuges e se libertavam os escravos que pertenciam ao Estado e os de usufruto da Coroa”.

Em 22 de junho foi a última vez ao teatro. Morreu em 6 de julho de 1871, às 15h30. Foi poeta lírico e também público, com grande número de poemas sociais (p.175). Lembrando que, no período, eram poucos os políticos e intelectuais que se opunham à escravidão, a exemplo de Silveira da Mota, Tavares Bastos, Manoel Francisco Corrêa, Perdigão Malheiro, o visconde de Jequitinhonha, o marquês de São Vicente, Nabuco de Araújo e Rui Barbosa (p.179).




[1] COSTA E SILVA, Alberto da. Castro Alves: um poeta sempre jovem. - São Paulo, Cia das Letras, 2006.

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