Histórias de África Bahia

terça-feira, 17 de maio de 2011

Africanidades na formação da Bahia

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A África, com seus 53 países, tem cerca de 900 milhões de habitantes, sendo o segundo continente mais populoso do planeta. O primeiro, por muito tempo, continuará sendo a Ásia.
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Mapa da Fenícia e rotas de comércio (por volta de 600 a.c. - wikipedia)
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Segundo o professor Kabengele Munanga (2009), o topônimo “África” vem desde a antiguidade greco-romana denominando, inicialmente, um pequeno território ocupado pelos fenícios, (por volta do século VII a.c), que hoje corresponde a atual Líbia, ao norte da África.
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Província dos Afri (afer no singular) foi o nome dado a toda essa região costeira, por volta de 146 a.c, pelos romanos após destruírem Cartago. Cidade que era considerada a capital desse extenso território.
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Casa berbere em Matmata, Tunísia
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A enciclopédia livre – wikipedia, ainda nos informa que “a origem do termo afer talvez seja a palavra fenícia afar, que significa “pó, poeira” e que o nome ifri derivaria dessa origem berbere (grupo da família linguística afro-asiática com cerca de 25 línguas e mais de 300 dialetos), e que significaria “caverna” em referencia às grutas onde esses povos viviam. Os romanos teriam acrescentado o sufixo ca denotando o termo “país ou território” (ifri+ca).
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Duas outras etimologias, também sugeridas pela wikipédia, merecem destaque. A primeira se refere à palavra aprica, de origem latina e que significa “radiante, ensolarados”, mencionada por Isidoro de Sevilha no século VI, em etymologiae XIV; a segunda, phrike, palavra grega que significa “frio e horror” combinada com o prefixo privativo “um”, “indicando assim um terreno livre de frio e de horror”. Proposição feita pelo historiador Leo Africanus que viveu entre 1488 e 1554.
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Samburus Kenia (Foto García Robles)
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O continente africano abriga uma diversidade biológica, linguística e cultural (ou étnica) muito intensa e variada. Os limites geopolíticos de seus estados possuem numerosas sociedades com diferentes línguas (só na África do Sul temos 11 línguas oficiais; em Moçambique, 1 língua oficial, o português, e 13 não oficiais), crenças, instituições políticas e familiar bastante distintas. Uma grande unidade social, expressa por essa numerosa diversidade de individualidades culturais, destaca uma fisionomia própria para o continente africano.
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Ao norte, na orla do mediterrâneo, passaram líbios, semitas, fenícios, assírios e greco-romanos. Povos de pele clara, resultando encontros diversos que motivaram mestiçagens milenares marcando essas populações com traços próprios, diferente das características biológicas daqueles povos que habitam toda a região sul a partir das fronteiras do Deserto do Saara, o Sahel (que cobre toda uma linha horizontal entre o oceano Atlântico e o Mar Vermelho: desde o Cabo do Bojado, no Saara Ocidental, até o Cabo Guardafui, na Somália), ao Cabo da Boa Esperança, no extremo sul, denominada de África Subsaariana. Esta, predominantemente negra, abriga, em sua vastidão, um complexo biológico com numerosa variação de tons, tamanhos físicos e traços morfológicos bastante diferenciados.
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Essa similaridade cultural que se espalha por toda a região ao sul do Saara, garantindo ao conjunto de suas sociedades individuais o resultado da soma de características que lhes confere uma fisionomia própria, essencialmente africana, ficou conhecida como africanidade – como um selo da qualidade tradicional, particular, especialmente original do contexto africano.
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Seguindo indicações bibliográficas do professor Maurício Waldman, situaríamos no bojo dessas influências, as principais referências do universo religioso e cultural africano, fundamental para a compreensão dos nossos costumes, nossa brasilidade que teve enorme contribuição desses povos.
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Baobás, morada de deuses e espíritos
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As religiões tradicionais africanas encontram-se em conformidade e equilíbrio com o espaço ecológico, “relacionam-se diretamente com fatos sociais e com a exploração dos recursos naturais fundamentais (...) encontram expressão em marcas apropriadas diretamente da natureza, como é o caso dos Baobás, entendido como morada dos deuses e dos espíritos”, nos posiciona o antropólogo Maurício Waldman.
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Povo Massai (Foto García Robles)
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Uma lógica operante que aposta na coletividade, no compartilhamento para a preservação do solo e a vida em equilíbrio com a natureza. Na sua origem, antes da chegada do colonizador branco, a África zelou pela “permanência do modo tradicional de vida” (MW), sem a necessidade de exploração de excedentes, depredações injustificáveis a custa de grandes penalidades e extinções. Tempos em que, para a grande maioria dos africanos, o solo era considerado sagrado, um bem coletivo que pertencia a todos, tutelado sob as leis religiosas, regidas pelos espíritos ancestrais.
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Bons tempos, no aspecto solidariedade, quando o modo de vida era rigorosamente comunitário, de produção coletiva, suficiente, centrada no núcleo familiar. Entende-se família africana como um núcleo de agregados muito amplo, considerando mesmo os parentes distantes e aqueles adotados por diferentes motivos, e ainda aqueles justificados como herdeiros de um ancestral mítico comum.
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Comparando africanidade/baianidade, observamos na expressão de nossa unidade cultural, a soma de características de diferentes sociedades africanas e indígenas ainda conscientes dessa energia vital, essa força singular que está em todas as coisas consagradas em nossos costumes. Cada um contribuiu com suas individualidades, seus fenômenos particulares, seus sistemas de crenças, seus dialetos e línguas variadas, colorindo o nosso imaginário com suas artes naives, propondo novas significações e ressignificações para as reelaborações existenciais a partir de visões simples, sugestivas e, aparentemente, “ingênuas” de mundo.
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Para finalizar, cito um trecho do livro do nosso Prof Kabengele Munanga (citando Cheikh Anta Diop, no livro L'Unité culturelle de l'Afrique noire), no qual descreve uma africanidade que eu considero muito semelhante à nossa baianidade:
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Baía de Camamú - família baiana, nossa herança matriarcal
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"O berço meridional confinado ao continente africano é caracterizado pela família matriarcal, a criação do estado territorial em oposição à cidade-estado nórdica, a emancipação da mulher na vida doméstica, a xenofilia, o cosmopolitismo, uma espécie de coletivismo social, tendo como corolário a quietude, até a despreocupação com o dia seguinte; a solidariedade material de direito para cada indivíduo, que faz com que a miséria material ou moral não seja comum até hoje (...) No domínio da moral, existe um ideal de paz, de justiça, de bondade, um otimismo, que elimina toda noção de culpabilidade ou de pecado original nas criações religiosas e metafóricas."
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...isso me lembra muito a maresia do caboclo de Carnaíba; o sol lambendo multidões na praia durante os sucessivos dias da semana; os amigos reunidos a bater a laje no domingo; o dengo vocálico do formoso nêgo de Itacaré; da beleza imponente presente na filha de Iansã comandando as batidas no ritmo do afoxé; do feijão de maínha de Oxum reunindo toda família - os agregados também são bem vindos - domingo que vem.
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Bibliografia:
MUNANGA, kabengele. Origens africanas do Brasil contemporâneo. Global editora, SP 2009;
WALDMAN, Maurício. A África tradicional. Projeto Sigma, Editora Didática Suplegraf, 1997
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Wikipedia - a enciclopédia livre. Acessos:
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Um comentário:

Laninha disse...

Oi.

O povo do Nordeste brasileiro descende de berberes muçulmanos que foram cristianizados a força e enviados p/ a colonia do que viria a ser o Brasil.

Os povos indígenas berberes são formados por várias etnias e podem ser caucasianos e negros sendo que todos têm olhos negros, tão negros que não dá p/ ver a menina-dos-olhos; até os loiros.

Qdº da queda do império árabe na Península Ibérica os aristocratas árabes fugiram e deixaram em Portugal os descendentes dos guerreiros que p/ eles conquistaram parte da Europa, os amazing / berberes ou mouros=morenos. Os árabes ao dominar o norte da Africa consideraram os berberes como de classe inferior e os treinaram nas práticas da guerra e da guerrilha porque os sauditas azem parte da aristocracia até hoje não guerreiam contudo iluminaram as trevas do mundo com seu legado cientifico e artístico.

Os berberes são cantores natos por isso o povo do Nordeste brasileiro fala em cadencia de canto. Vide Edith Piaf que era berbere cabila.